De que adianta separar o lixo reciclável se a sua cidade não
tiver um programa de coleta seletiva? Por outro lado, se não houver o
menor interesse da população em reciclar, valeria a pena que a cidade
investisse em um programa de coleta?
Esse é um simples exemplo para refletirmos sobre quem são realmente
os agentes responsáveis pelas mudanças necessárias em relação às
questões ambientais. Seriam o governo e instituições os responsáveis por
impulsionar iniciativas sustentáveis ou primeiramente são as pessoas
que devem começar a fazer a diferença?
Sempre acreditei no poder que cada um de nós tem de influenciar os
outros. No entanto, academicamente falando, já conheci muitos
pesquisadores que me apontaram que somente isso não é o suficiente.
Segundo eles, nada adianta os indivíduos mudarem se não houver mudanças
significativas nas instituições, nas políticas e na lógica do nosso
sistema, que é a lógica de acumulação de riqueza a todo custo. Devo
confessar que essa visão bastante realística me deixou sem esperanças em
relação ao poder de cada um de nós.
Por certo tempo convivi com o dilema: OU eu acreditava que as pessoas
podem sim mudar o mundo OU eu acreditava que a natureza só teria uma
chance quando uma mudança profunda de paradigma ocorresse, e nossas
políticas e instituições refletissem isso – ou seja, o “topo” do sistema
seria o responsável por iniciar ou barrar todo e qualquer processo de
mudança.
Felizmente ou infelizmente, o mundo é muito mais complexo que isso.
Deixei de ter essa visão dicotômica quando li o artigo “The power of voluntary actions”
(O poder das ações voluntárias). O artigo afirma que mudanças políticas
e institucionais são tão importantes quanto mudanças individuais de
comportamento.
No artigo, o pesquisador David Roberts argumenta que pequenas
mudanças individuais são importantes não somente pelo impacto direto que
elas têm, mas também porque quando um indivíduo decide tomar uma
atitude sustentável (p.ex. reciclar) ele se torna mais propenso a adotar
uma segunda atitude (p.ex economizar água), e assim por diante.
David também diz que numerosos estudos psicológicos mostram que
pessoas que adotaram diversas pequenas ações pró-ambiente (p.ex usar
lâmpadas mais econômicas em casa) são mais propensas a adotar mudanças
significativas de comportamento ao longo do tempo (como reduzir o
consumo de carne, ir de bicicleta ao trabalho etc.).
Novas políticas também são obviamente de extrema importância para
consolidar mudanças de comportamentos. Essas políticas, porém, devem ser
criadas e implementadas com cautela. Imagine se para resolver o
problema do trânsito o governo te obrigasse a ir de ônibus ou bicicleta
para o trabalho?
Nossa vontade de mudança precisa ser manifestada até o ponto que
exista um interesse político em satisfazê-la. Isso exige bastante
organização da nossa parte e nem sempre tem resultados garantidos, mas
talvez seja a única forma de realmente sermos agentes de mudança. Como
diria Lao-Tsé, “uma longa viagem começa com um único passo”. Acredite
no poder das suas pequenas ações e comece a fazer a diferença.
*Carolina Nalon é bióloga formada na Esalq-USP e life coach da
Sociedade Brasileira de Coaching. Mora em Taubaté (SP) e atende
profissionais das áreas ambiental/social. Ela também escreve em seu
próprio blog.
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