O escritor brasileiro Fernando Sabino conta que certa ocasião, quando escrevia um romance, precisou saber com quantas pernas se fazia uma salamandra. Ignoramos em que situação de seu romance pretendia aproveitar as pernas da salamandra, mas, como ele não conseguiu descobrir (pois não havia salamandras no Brasil), o pequeno animalzinho deixou de se incorporar à literatura brasileira. A salamandra e os outros urodelos vivem principalmente no hemisfério norte: Estados Unidos, Europa, e Ásia temperada. Entretanto, justificava-se a curiosidade do autor de “Encontro Marcado”. Poucos animais foram tão envoltos pelas lendas como os urodelos, particularmente a salamandra. A estranha aparência, a coloração brilhante e algumas singularidades em seu comportamento fizeram com que os homens a cercassem de uma aura de mistério e superstição. Nos países orientais as salamandras eram tidas como reencarnação de bruxas ou princesas. Nos Cárpatos e nos Alpes julgavam-nas possuidoras da virtude de curar todas as enfermidades do corpo e do espírito. Os alquimistas da Idade Média usaram-nas em suas vãs tentativas para fabricar ouro.
Tudo isso teve origem, provavelmente, ao redor das primeiras fogueiras, que os homens acenderam para se aquecer ou assar alimentos. Quando o fogo era mais intenso, a madeira estalava, do meio das chamas surgia uma salamandra, os olhinhos abertos, a pele brilhante, rastejando arisca para as matas mais próximas. Talvez os primitivos duvidassem dos próprios olhos, tanto que fizeram novas fogueiras. E surgiram novas salamandras. Uma, duas, muitas brotavam das chamas ardentes. A impressão se confirmou: o animal nascera do fogo.
Na realidade, as salamandras, como todos os anfíbios, são ovíparas (só algumas poucas espécies têm crias vivas e formadas), e portanto os bebês salamandras não advêm de românticas chamas, mas de prosaicos ovos.
Os anfíbios originaram-se dos peixes ósseos e foram os primeiros animais terrestres. Atingiram grande desenvolvimento há mais de 20.000.000 de anos, mas com o surgimento de outras formas de vida terrestre (répteis, mamíferos e aves) entraram em decadência e foram desaparecendo.
Animais muito antigos, os urodelos retiveram algumas características da vida primitiva. Sua pele não possui nenhuma proteção, nem escamas, nem pelos ou penas. Seus olhos fixos produzem em quem os contempla a desagradável sensação de estar sendo observado.
A despeito de sua fama, a salamandra é um animalzinho simpático, útil e inofensivo. O seu contato com a pele humana não queima, nem envenena o homem como imaginavam os antigos. Por se alimentarem geralmente de insetos e larvas prejudiciais à plantação, ela é um combatente natural (inseticida) de pragas agrícolas. As salamandras não devem ser confundidas com os lagartos e as lagartixas, que são répteis: nem sequer são parentes. Sua espécie mais comum é conhecida como a salamandra-do-fogo. Mas, por incrível que pareça, elas não se adaptam ao calor e preferem lugares úmidos e frios. Habitam velhos troncos de árvores ou madeiras e arbustos próximos a cursos de água.
A salamandra para não morrer queimada, caso alguém faça uma fogueira com seu tronco-lar, desenvolveu uma maneira de auto-proteção.
As glândulas de sua pele soltam um líqüido viscoso que serve para protegê-la das chamas durante a fuga.
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