16 de setembro de 2012 • 11h03
O psicólogo Rodrigo Braga iniciou uma campanha no Facebook para arrecadar dinheiro para as construções
Foto: Rodrigo Braga/Divulgação
Foto: Rodrigo Braga/Divulgação
Em um lugar onde pontes são calçadas e frequentes inundações engolem
tudo que tem pela frente, o simples ato de ir ao banheiro pode se tornar
um desafio. Antes mesmo de ficar doente em uma de suas passagens pela
parte mais alagadiça da Ilha de Marajó, em São Sebastião da Boa Vista
(PA), e perceber o grave problema de saneamento básico na região, o
psicólogo social Rodrigo Braga iniciou uma campanha pela construção de
uma alternativa que fosse viável para o local. Sem acesso a
encanamentos, fossas ou qualquer outro sistema de esgoto, Braga e o
permacultor Fernando Normando intalaram "banheiros secos ecológicos".
Com a ajuda financeira de amigos e familiares, eles instalaram, desde
julho deste ano, dez sanitários. O produto é artesanal, elaborado com
tonéis de plástico e a prova d'água. Além de evitar o contato direto das
fezes com o rio - usado para banho e pesca dos moradores da região -, o
banheiro de tonel transforma todo o resíduo em adubo.
"É justamente a mesma reação que tem na floresta. Quando um animal faz cocô, caem as folhas por cima, a areia cobre e aquilo vira adubo depois de um tempo. Essa mesma reação que tem na floresta, a gente reproduz dentro do tonel", explicou Braga, que se divide entre a ilha, onde passa a semana trabalhando em um projeto social com adolescentes, e a capital Belém, onde mora, distantes nove horas de barco uma da outra. Ao invés de dar a descarga, o usuário desse tipo de banheiro deposita caroços de açaí, folhas secas e farelos de madeira dentro dos toneis, que demoram de seis a oito meses para encher. Ao chegar no limite, o recipiente fica mais seis meses tampado e condicionado no sol.
Com apoio logístico da Secretaria Municipal de Assistência Social, que pagou passagens de barco para os dois, o primeiro banheiro nasceu de uma iniciativa pessoal do psicólogo. Após custearem a primeira construção com dinheiro de seus próprios bolsos, Braga e Normando fizeram uma campanha no Facebook que arrecadou cerca de R$ 2 mil, verba suficiente para mais dez banheiros. "Muita gente ajudou, famílias, amigos. Quando não ajudavam com o valor total do banheiro, que é de R$ 170, eles contribuíam com o que podiam, R$ 20, R$ 50. Teve um amiga que, por exemplo, me avisou que tinha depositado um valor e eu perguntei quanto, ela disse: 'R$ 1.020'. Eu não acreditei. Ela disse que tinha juntado a família e todo mundo doou um pouquinho e, no total, deu isso", disse Braga.
O psicólogo relatou que a maioria dos moradores usa um tipo de banheiro que, de certa forma, também é seco, já que não envolve água como descarga, mas acaba envolvendo o rio porque onde está instalado - geralmente, no mato - a água invade e leva as fezes. "O costume aqui é o seguinte, atrás (da casa) fica o banheiro, onde você faz suas necessidades, e, na frente, fica o rio onde se toma banho. Não se tem chuveiro. Eu faço até uma brincadeira com eles, falo: 'atrás, vocês tiram de vocês e, na frente, vocês colocam de novo para dentro'. Não pode.", ressaltou Braga.
Mesmo que baseado na preocupação com a saúde da própria população, o projeto ainda encontra resistência por parte dos moradores. "Para eles começarem a utilizar o banheiro do tonel, existe um pouco de resistência também. Então, nós estamos em um processo que não é só instalar. É toda uma atividade de educação ambiental que gira em torno disso também."
Para o morador Cezário Gomes Ferreira, 52 anos, foi essa assistência que fez toda a diferença. "A gente não teve dificuldade (de adaptação). Para gente isso foi bom para evitar a poluição da água. Dificuldade a gente teria se eles não tivessem explicado nada para gente. Mas eles explicaram tudo como é. Que se joga um pouco de folha seca, um pouco de caroço, que aí faz o adubo. A gente tem aqui açaizeiro, limoeiro. A gente planta cupuaçu. Então para gente isso é bom, para dar sustança nessas plantas aí", disse o agricultor, que mora com a mulher e nove filhos.
Com a segunda campanha lançada no Facebook, Braga espera arrecadar dinheiro suficiente para mais dez banheiros. Mesmo movido por certa "indignação", ele fala sobre a dificuldade de se desenvolver um trabalho desse tipo. "No dia a dia aqui, o trabalho é grosso. Não é fácil ter que instalar dez banheiro, conversar com todo mundo, falar o mesmo assunto dez vezes. É um suor danado na verdade."
"É justamente a mesma reação que tem na floresta. Quando um animal faz cocô, caem as folhas por cima, a areia cobre e aquilo vira adubo depois de um tempo. Essa mesma reação que tem na floresta, a gente reproduz dentro do tonel", explicou Braga, que se divide entre a ilha, onde passa a semana trabalhando em um projeto social com adolescentes, e a capital Belém, onde mora, distantes nove horas de barco uma da outra. Ao invés de dar a descarga, o usuário desse tipo de banheiro deposita caroços de açaí, folhas secas e farelos de madeira dentro dos toneis, que demoram de seis a oito meses para encher. Ao chegar no limite, o recipiente fica mais seis meses tampado e condicionado no sol.
Com apoio logístico da Secretaria Municipal de Assistência Social, que pagou passagens de barco para os dois, o primeiro banheiro nasceu de uma iniciativa pessoal do psicólogo. Após custearem a primeira construção com dinheiro de seus próprios bolsos, Braga e Normando fizeram uma campanha no Facebook que arrecadou cerca de R$ 2 mil, verba suficiente para mais dez banheiros. "Muita gente ajudou, famílias, amigos. Quando não ajudavam com o valor total do banheiro, que é de R$ 170, eles contribuíam com o que podiam, R$ 20, R$ 50. Teve um amiga que, por exemplo, me avisou que tinha depositado um valor e eu perguntei quanto, ela disse: 'R$ 1.020'. Eu não acreditei. Ela disse que tinha juntado a família e todo mundo doou um pouquinho e, no total, deu isso", disse Braga.
O psicólogo relatou que a maioria dos moradores usa um tipo de banheiro que, de certa forma, também é seco, já que não envolve água como descarga, mas acaba envolvendo o rio porque onde está instalado - geralmente, no mato - a água invade e leva as fezes. "O costume aqui é o seguinte, atrás (da casa) fica o banheiro, onde você faz suas necessidades, e, na frente, fica o rio onde se toma banho. Não se tem chuveiro. Eu faço até uma brincadeira com eles, falo: 'atrás, vocês tiram de vocês e, na frente, vocês colocam de novo para dentro'. Não pode.", ressaltou Braga.
Mesmo que baseado na preocupação com a saúde da própria população, o projeto ainda encontra resistência por parte dos moradores. "Para eles começarem a utilizar o banheiro do tonel, existe um pouco de resistência também. Então, nós estamos em um processo que não é só instalar. É toda uma atividade de educação ambiental que gira em torno disso também."
Para o morador Cezário Gomes Ferreira, 52 anos, foi essa assistência que fez toda a diferença. "A gente não teve dificuldade (de adaptação). Para gente isso foi bom para evitar a poluição da água. Dificuldade a gente teria se eles não tivessem explicado nada para gente. Mas eles explicaram tudo como é. Que se joga um pouco de folha seca, um pouco de caroço, que aí faz o adubo. A gente tem aqui açaizeiro, limoeiro. A gente planta cupuaçu. Então para gente isso é bom, para dar sustança nessas plantas aí", disse o agricultor, que mora com a mulher e nove filhos.
Com a segunda campanha lançada no Facebook, Braga espera arrecadar dinheiro suficiente para mais dez banheiros. Mesmo movido por certa "indignação", ele fala sobre a dificuldade de se desenvolver um trabalho desse tipo. "No dia a dia aqui, o trabalho é grosso. Não é fácil ter que instalar dez banheiro, conversar com todo mundo, falar o mesmo assunto dez vezes. É um suor danado na verdade."
- Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.