A ideia era levar pra feira da cidade o excedente para a
venda e ou troca. Francisca e Batista saiam de manhã cedo e só voltavam no fim
da tarde. Ela, no fim da feira, catava o que sobrava ou era desperdiçado pelos
feirantes. Mesmo o que era considerado imprestável ou lixo era levado para
casa. Servia de alimento para os animais e de insumo para a compostagem, além
do aproveitamento das sementes. Daí, agora poderiam começar a horta. Tinham
tomate, pimentão, cebolinha, chuchu...
Batista aproveitava as idas para a cidade para procurar
emprego. Ele conseguiu um bico na própria feira. Começou fazendo serviços de
limpeza, o que facilitava na coleta do que levavam pra casa. O local da feira
estava passando por uma reforma e Batista enxergou possibilidades em muitas
coisas descartadas: duas caixas d’água de 500 litros e tábuas de paletes. No
dia seguinte, Janu e sua carrocinha voltaram carregados.
Benedito logo teve duas ideias. Cavou na lateral da casa
logo abaixo do telhado e enterrou uma das caixas. Ela iria servir para coletar a
água da chuva. A segunda também foi enterrada no centro da horta e serviria de
criatório para peixes. Na feira havia uma senhora que vendia tilápia viva.
Criação de peixe garantida e fertilizante líquido também – adubação excelente!
Durante a reforma do mercado onde havia a feira surgiu a
oportunidade de emprego para Benedito na construção civil. Suas habilidades e a
facilidade para aprender coisas novas possibilitou sua ocupação por tempo
ilimitado. Ele se tornou o queridinho dos engenheiros da cidade. Pau pra todas
as obras. O mais genial é que ele conseguia ver alternativas com outros
materiais. Uma vez chegou com duas garrafas cheias de água e subiu no telhado.
Improvisou uma abertura e encaixou as garrafas. O problema da casa escura foi
resolvido durante o dia. O sol batia nelas e a luz entrava pelo teto. Mas nada
foi tão mais importante do que ter sido contratado por uma construtora nada
convencional que tinha projetos revolucionários e sustentáveis. Ela veio com a
proposta de preparar sua futura equipe com o ensino de Permacultura. Lá
aprendeu vários e novos métodos bioconstrutivos. O que mais chamou a atenção de
Benedito foi o uso de tijolos ecológicos e o modo como eles eram feitos. Nunca
imaginou que poderiam ser feitos sem precisar passar pela queima e que o
cimento poderia ser substituído por cinzas, como os antigos faziam. Quando
chegou em casa, reuniu todo mundo e contou aquela novidade do dia.
Dona Rita foi a pessoa que mais se
espantou com a novidade. Ela herdou da avó a arte de trabalhar com barro. Usaria
com certeza a nova técnica.
No dia seguinte Benedito aprendeu a
construir banheiros secos, biodigestores e o que chamam de fossa verde ou ciclo
de bananeiras. Não teve dúvida. A partir daquele dia soube que deveria levar seu
irmão Batista, Janu e a carroça com ele. Todo o entulho útil das construções
por onde passavam era agora um mundo de possibilidades.
Um dia, passando em frente a uma
madeireira, Batista encontrou sobras de madeiras, tábuas e serragem e se
mostrou interessado. O dono do estabelecimento vendo aquilo lhe perguntou se
ele poderia fazer a limpeza do lugar quando o expediente terminasse. Ele não só
limpou como também organizou. Satisfeito, o proprietário se comprometeu a ensiná-lo
a arte da marcenaria. Logo foi pensando em reformar o galinheiro, aumentar a
produção de ovos e começar a produzir cama de frango para incrementar a
adubação da horta.
Quando a temporada do serviço da
construtora chegou ao fim, Benedito resolveu começar a pôr em prática tudo o
que aprendeu no canteiro de obras junto com a família. Resolveram refazer o
telhado, as paredes e o fogão velho de lenha. Construíram também mais 2 cômodos.
Eles mesmos fizeram os tijolos e as telhas. Fizeram também uma palhoça onde se
juntavam para os trabalhos coletivos e armar as redes onde dormiram durante o
período em quê a casa ficou em obras.
Em junho daquele ano, a feira da
cidade recebeu a visita de uma de uma gente que trazia novidades para
produtores rurais e agricultores familiares. Aproveitaram a semana do meio
ambiente para ministrar um curso de Permacultura. O professor era Australiano e
morava por aqui há mais de 25 anos, mas ainda falava enrolado e contava com a
ajuda da esposa para desenrolar quando fosse necessário. Sr. Expedito, passou a
acompanhar a filha nas idas à feira e foi ele quem mais se benefeciou com tudo.
Aprendeu como produzir de mudas: técnicas de estaquia, enxertia e alporquia;
aprendeu até como plantar em sistema de agrofloresta.
ÁREAS DE CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA A EXECUÇÃO DO PROJETO:
Agricultura
Marcenaria
Construção
...
A EXPERIÊNCIA
Começar do zero. Antes de deixar seus locais de moradia se
comprometeram a aprender as técnicas permaculturais e segui-las a risca sem
fazer uso de energia elétrica e ou água encanada.
Os projetos a serem postos em prática.
Horta comunitária: produção saudável / cultura de legumes,
verduras, ervas medicinais, frutas - respeitando a época de plantio e
colheita + berçário de plantas nativas que serão plantadas no entorno das
casas da comunidade.
Cozinha comunitária: local de preparação e consumo dos alimentos
colhidos e produzidos no local nos fogões ecológicos e fornos solares.
Abrigo comunitário para as famílias participantes do
experimento durante o período de implantação e implementação do projeto.
Captação de água da chuva do teto do abrigo direcionada para
cisterna com filtro natural de carvão ativado.
Criação de aves e peixes: galinheiro e tanque de peixes com
função de alimentar e produzir fertilizantes para a nutrição das plantas do
local.
Compostagem: a partir das podas e restos de alimentos que
não foram consumidos pelos animais
Biodigestor: água negra para produção de gás...
Coleta e tratamento de esgoto e outras águas servidas- água
cinza, para rega das plantas da horta
O PROCESSO:
Todos os projetos devem ser iniciados ao mesmo tempo, em
paralelo.
Em apenas 6 meses tudo deve ficar pronto. Todos os
integrantes da família devem participar ativamente cooperando entre si no
feitio / na execução / na realização de cada um dos projetos.
Nos 6 meses seguintes, o processo de construção das casas
devem ser iniciados - também em conformidade com as técnicas de construção da
PERMACULTURA aprendidos durante o curso.
Após 15 dias do curso sobre técnicas permaculturais tem
início a fase de coleta de insumos e outros materiais necessários para o empreendimento.
Obs.: os materiais devem ser de descarte: resto de obras e recicláveis e ou
provindos / provenientes de doação.
Madeiras
Plásticos
Metais
Sementes
Pneus
Ferramentas manuais
O terreno corresponde ao tamanho de um quarteirão.
Deve ser limpo e as árvores apenas podadas.
O terreno deve ser dividido em 4 quadrantes:
Nordeste + insolação manhã
Noroeste + insolação tarde
Sudeste + vento manhã / insolação manhã
Sudoeste + vento
tarde / insolação tarde
O abrigo e seu sistema de captação e reservatório de água da
chuva deve ficar situado no sudeste
A cozinha comunitária no sudoeste
A horta e o criatório de animais no nordeste
A zona de saneamento, compostagem e biodigestora no noroeste
O abrigo será uma estrutura feita apenas com bases de
sustentação para comportar redário e teto apropriado para a coleta da água da
chuva e deve ficar no local mais iluminado e ventilado durante a manhã.
A horta e o local para a criação de animais deve ficar no
local mais ensolarado durante todo o dia.
A cozinha comunitária deve abrigar fogões ecológicos –
fogões foguetes
Na zona de saneamento e compostagem deve haver um sistema de
fossa verde para a coleta do esgoto e banheiros ecológicos
Todo o material orgânico da limpeza do terreno e podas deve
ser reservado no local mais ensolarado do terreno para uso posterior na horta.
AS MUDANÇAS QUE ESTÃO SENDO FEITAS ESTÃO SENDO FEITAS DENTRO
DAS PESSOAS, DENTRO DO CORAÇÃO DAS PESSOAS E NÃO DENTRO DA LÓGICA DAS PESSOAS.
QUANDO ESSAS PESSOAS CHEGAREM A TER SUFICIENTE PODER DENTRO
DA SOCIEDADE VÃO MUDAR A SOCIEDADE, MAS O PRIMEIRO QUE TEM QUE MUDAR É O
CORAÇÃO
NÃO BUSCA CONFLITAR. BUSCA CUIDAR.
O QUE É PERMACULTURA¿
GUILLERMO GAYO – ECOCENTRO IPEC – PIRENÓPOLIS (GO)
O SIGNIFICADO DA PALAVRA É A CULTURA DO PERMANENTE, E O QUE
TEM QUE SER PERMANENTE SÃO OS CICLOS PARA MANTER A VIDA NUM SISTEMA COMPLETO /
COMPLEXO ONDE NÓS MORAMOS.
RESPEITAR A ÉTICA DA PERMACULTURA É IR CONTRA OS INTERESSES
DE UM MODELO QUE DE FATO NÃO CUIDA DA TERRA, APENAS A EXPLORA, NÃO TEM
INTERESSE EM CUIDAR VERDADEIRAMENTE DAS PESSOAS E DE TODOS OS OUTROS SERES
VIVOS E MUITO MENOS COMPARTILHA SEUS BENEFÍCIOS. EM SUMA, É UM SISTEMA
EQUIVOCADO / INADEQUADO – NÃO TRAZ MELHORIAS PARA A HUMANIDADE COMO UM TODO.
GUSTAVO CÍRIO –
SEM O CUIDADO COM A TERRA E OS ELEMENTOS QUE VIVEM NELA E
DELA DEPENDEM E SEM A MANUTENÇÃO DOS CICLOS NATURAIS NÃO HÁ CULTURA PERMANENTE.
DEVEMOS DEVOLVER PARA A TERRA O QUE TIRAMOS DELA.
A GRANDE VANTAGEM DA PERMACULTURA É QUE ELA ENSINA FAZENDO.
MOSTRA UMA REALIDADE DIFERENTE. NÃO APENAS FALAR O QUE FAZER, MAS FAZER E
COMPROVAR SEUS RESULTADOS: RECUPERAÇÃO DA NATUREZA, CONSERVAÇÃO DA ÁGUA E
MELHORAMENTO DA QUALIDADE DE VIDA DE QUEM A PRATICA.
AS PRÁTICAS PERMACULTURAIS E SEUS RESULTADOS PODEM TRAZER A
CONSCIÊNCIA ÀS PESSOAS DE QUE É POSSÍVEL PROMOVER E ALCANÇAR MELHORIAS DE VIDA
COM RESPEITO AO MEIO AMBIENTE E CONVIVER COM OS DEMAIS SERES.
INFELIZMENTE, A BUSCA POR MUDANÇAS SÓ SE EFETIVA QUANDO HÁ
INTERESSE ECONÔMICO. NO MOMENTO EM QUE PASSAMOS POR UMA CRISE HÍDRICA, O
INTERESSE EM RESOLVER O PROBLEMA É DE CARÁTER FINANCEIRO E NÃO HUMANO /
SUSTENTÁVEL. É MAIS FÁCIL ATINGIR ALGUÉM NO BOLSO DO QUE NA CONSCIÊNCIA.
POR ENQUANTO, NÓS PERMACULTORES SOMOS VISTOS COMO PESSOAS
ESDRUXULAMENTE IDEALISTAS – UTÓPICAS.
TIAGO RUP –
A PERMACULTURA NASCEU NA CABEÇA DE DUAS PESSOAS, BILL
MOLLISON E DAVID HOLMEGREN, INICIALMENTE NA DE BILL MOLLISON – ESTUDANTE DE
AGRONOMIA DE PRÁTICAS CONVENCIONAIS QUESTIONADAS POR ELE, JÁ QUE CONCLUÍRA QUE
ESSAS TÉCNICAS CAUSAVAM DESTRUIÇÃO DO MEIO E ASSIM NÃO SÃO SUSTENTÁVEIS, NÃO
SÃO PERMANENTES NEM NATURAIS E O ALIMENTO PRODUZIDO NÃO É DE QUALIDADE
DUVIDOSA, QUANDO NÃO DE PÉSSIMA QUALIDADE. TAL CONCLUSÃO O LEVOU A ABANDONAR O
CURSO E TORNAR-SE UM AUTODIDATA E PESQUISADOR, BUSCANDO OUTRAS PESSOAS, COMO
DAVID HOLMGREN, E ASSIM DESENVOLVERAM O QUE ELES CHAMARAM DE PERMACULTURA.
PABLO TRIVE –
É UM ESTILO DE VIDA, UMA METODOLOGIA E É UMA FILOSOFIA QUE
SERVE PARA RESOLVER GRANDES PROBLEMAS ENFRENTADOS HOJE, TRAZENDO PARA AS
PESSOAS A POSSIBILIDADE DE SE RESPONSABILIZAREM PELA SUA EXISTÊNCIA EM TODOS OS
ASPECTOS.
O PROBLEMA DE NÃO NOS CONSIDERARMOS MAIS “ANIMAIS” E SERMOS
“HUMANOS” COM PODER DE ADAPTAR, TRANSFORMAR E CRIAR MÁQUINAS.
MARCOS NINGUÉM – SÍTIO FAMILIAR – ALTIPLANO LESTE (DF)
A PERMACULTURA É O QUE É – UM PLANEJAMENTO COM PRINCÍPIOS
ÉTICOS DE COOPERAÇÃO E SUSTENTABILIDADE - UM DESIGN DE CONEXÃO ENTRE ANIMAIS,
PLANTAS, EDIFICAÇÕES E PESSOAS - E NÃO DEVE SER MODIFICADA AOS MOLDES DE CADA
UM COMO ASSIM DESEJEM.
A PERMACULTURA É UMA CIÊNCIA DE PLANEJAMENTO – UM MÉTODO
CIENTÍFICO DE PLANEJAMENTO DE AMBIENTES.
COMO A PERMACULTURA PODE MUDAR O MUNDO¿
MOISÉS PRESTES –
NÃO PRECISA ESTAR / VIVER NO MEIO DO MATO. NA VERDADE ESSA
CULTURA DE PERMANÊNCIA COMEÇA NO DIA A DIA NO MODO COMO VOCÊ LIDA COM AS OUTRAS
PESSOAS.
MORAR NA CIDADE PODE ATÉ DIFICULTAR NA DIMINUIÇÃO DOS
IMPACTOS, MAS TER CUIDADO COM AS PESSOAS, COM OS DEMAIS SERES, COM A TERRA E
COM OS RECURSOS NATURAIS PODEM SER PRATICADOS NO MEIO URBANO TAMBÉM. SEPARAR
LIXO ORGÂNICO DO RECICLÁVEL JÁ É UMA GRANDE CONTRIBUIÇÃO.
FRASES COMO: O SEU FUTURO HOJE, O QUE VOCÊ DESEJA É PRA JÁ E
NÓS TEMOS O QUE VOCÊ PRECISA SÃO METÁFORAS DA VISÃO IMEDIATISTA DE NOSSO TEMPO
– TUDO TEM QUE SER CONSEGUIDO PRONTO E DE PRONTO. QUEREM OS FRUTOS DA COLHEITA
SEM TEREM PARTICIPADO DO PLANTIO.
E OS FRUTOS¿
ÀS PESSOAS QUE FORAM RESPONSÁVEIS PELA PRODUÇÃO DESSES
FRUTOS SÓ LHES RESTA A MISÉRIA, O DESPREZO E O PRECONCEITO POR PARTE DAQUELES
QUE COLHEM SEM PLANTAR. SOCIALMENTE ESSAS PESSOAS COSTUMAM OCUPAR, NA PIRÂMIDE
DE SERVIÇOS, A BASE. NÃO À TOA SÃO OS ESSENCIAIS, SEM OS QUAIS, OS DEMAIS NÃO
SOBREVIVEM.
PRODUZIR ALIMENTO É O BÁSICO E O ATO MAIS REVOLUCIONÁRIO E
SUBVERSIVO DE SER COMETIDO. É LIBERTADOR.
GINO VIVONE –
BILL MOLLISON, O PAI DA PERMACULTURA, DIZ QUE O GRANDE
EMPODERAMENTO ESTÁ EM PRODUZIR SUA PRÓPRIA COMIDA E ASSIM TAMBÉM REDUZIR SUA
PRÓPRIA PEGADA ECOLÓGICA DO CONSUMISMO.
A PERMACULTURA ESTÁ NA AGROFLORESTA E NA AGRICULTURA URBANA.
SER PERMACULTOR É FAZER USO DE TECNOLOGIAS AGREGADAS AOS CONHECIMENTOS
NATURAIS.
SER PERMACULTOR É SE TORNAR INDEPENDENTE DESSE SISTEMA DE
PRÁTICAS CONVENCIONAIS E CONSCIENTE DA ORIGEM DESSE ALIMENTO. QUEBRAR ESSE ELO
É NECESSÁRIO E CADA VEZ MAIS URGENTE.
FALAR EM SE RESPONSABILIZAR PELA NOSSA PRÓPRIA EXISTÊNCIA
INCLUI, ÓBVIO, QUAL DESTINO DARMOS AOS NOSSOS PRÓPRIOS EXCREMENTOS.
E A NOSSA MERDA¿
É IMPORTANTE SABER QUAL É O DESTINO DE NOSSOS DEJETOS EM UM
SISTEMA CONVENCIONAL. – COMPREENDER QUE TAL “SOLUÇÃO” É EQUIVOCADA E ACABA POR
GERAR OU AGRAVAR OUTROS PROBLEMAS.
MAS, PRIMEIRAMENTE É FUNDAMENTAL QUE HAJA A MUDANÇA NO
PENSAMENTO. SABER QUE NA PERMACULTURA, COM MANEJO ADEQUADO, EFICIENTE E VIÁVEL
FINANCEIRAMENTE, ATRAVÉS DE PROJETOS DE SANEAMENTO ECOLÓGICO É POSSÍVEL
TRANSFORMAR UM PROBLEMA AMBIENTAL EM UMA SOLUÇÃO OU BENEFÍCIO – “HUMUS
SAPIENS”.
E AS SEMENTES¿
PERMACULTURA NÃO É UMA UTOPIA. OS CENTROS PERMACULTURAIS
PROVAM E COMPROVAM ISSO. LÁ EXISTEM PESSOAS QUE COMPARTILHAM A MESMA CRENÇA E
CONSCIÊNCIA UTÓPICA DE QUE O MUNDO PODE SER MELHOR.