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Nota: Para outros significados, veja
Medusa.
As
medusas,
mães d'água,
águas-vivas ou
alforrecas são forma de vida livre dos
cnidários adultos, que se encontram nas classes
Scyphozoa,
Hydrozoa e
Cubozoa. Quase todas as medusas vivem nos
oceanos, como componentes do
zooplâncton.
Como todos os cnidários, o corpo das medusas é basicamente um saco com
simetria radial formado por duas camadas de
células - a
epiderme, no exterior, e a
gastroderme no interior - com uma massa gelatinosa entre elas, chamada
mesogleia
e aberto para o exterior. A forma pode variar desde um disco achatado
até uma campânula quase fechada; na margem livre deste disco, que pode
ser lisa, fendida ou ondulada, as medusas ostentam coroas de
tentáculos com células
urticantes, os
cnidócitos, capazes de ejectar um minúsculo
espinho que contém uma
toxina, o
nematocisto. Em algumas medusas, principalmente nos
Scyphozoa, onde são mais desenvolvidas, a boca, chamada
arquêntero, está munida de tentáculos, também com células urticantes e, por vezes, um véu chamado manúbrio
1 As medusas usam estes "aparelhos" não só para se defenderem dos
predadores, mas também para imobilizarem uma
presa, como um pequeno
peixe, para se alimentarem. O corpo das medusas é formado por 95-99% de água.
Uma das medusas mais comuns é a
medusa-da-lua (
Aurelia aurita), que se encontra em quase todos os oceanos do mundo.
Ontogenia e reprodução
Algumas espécies de
cnidários passam por várias fases e
metamorfoses durante o seu
ciclo de vida. As medusas têm sexos separados e do
ovo liberta-se uma
larva chamada
plânula pelágica de forma oval e completamente
ciliada que, em algumas espécies, se desenvolve como uma nova medusa. Em outras, a plânula, quando encontra um
substrato apropriado, fixa-se e se transforma num
pólipo.
Os pólipos
reproduzem-se assexuadamente formando
gomos que são
réplicas menores do pólipo-pai. Estes gomos podem libertar-se e fixar-se noutro substrato ou podem iniciar o processo de
estrobilação, dividindo-se em discos sobrepostos que se libertam como larvas pelágicas chamadas
éfiras que vão dar origem a novas medusas sexuadas.
Durante a reprodução sexual, as medusas libertam os produtos sexuais (
óvulos e
espermatozoides) na água, onde se dá a
fertilização.
Anatomia das medusas
Como todos os
cnidários, as medusas têm nos
tentáculos células urticantes chamadas
cnidócitos que produzem os
nematocistos, os túbulos urticantes. Quando uma
presa
entra em contacto com um tentáculo, centenas ou milhares de
nematocistos são ejectados sobre a presa, paralisando-a. Com os
tentáculos, o animal leva a presa para a "
boca" - o
arquêntero - por onde entra na cavidade central - o
celêntero - para ser
digerida.
Os cnidócitos são activados por um simples mas efectivo
sistema nervoso, formado por uma rede de células da
epiderme. Os impulsos destas células são enviadas para o
anel nervoso, assim como os dos
ropálios que são verdadeiros
órgãos dos
sentidos, incluindo
ocelos, que não são verdadeiros
olhos, mas são sensíveis à luz.
Algumas medusas albergam
zooxantelas,
algas simbiontes que lhes fornecem
energia - mas apenas na presença da luz e, por isso, as medusas realizam
migrações para aproveitar o máximo da luz solar.
Estes
animais não têm um verdadeiro
sistema digestivo, nem
sistema excretor - são as células da
gastroderme que executam essas
funções. A troca de fluidos e gases é efectuada através da expansão e redução do
celêntero, realizada por células
musculares na parede do corpo, que assim promovem a entrada e saída de água, para além do seu próprio
movimento na água. Por esta razão, diz-se que as medusas têm um "
esqueleto hidrostático".
Apesar das
cnidas, a maioria das medusas não são perigosas para o homem. Ao contrário do que se pensa, a perigosa
garrafa azul (
Physalia), não é uma medusa, mas uma colónia de pólipos da classe
Hydrozoa.
Importância para o homem
Apenas as medusas da classe
Scyphozoa e da
ordem Rhizostomeae são utilizadas na
alimentação
humana; 12 das cerca de 85 espécies descritas de Rhizostomeae são
capturadas e comercializadas internacionalmente. A maior parte das
capturas é realizada no
sueste asiático2 . As espécies
Rhopilema esculentum (nome em
língua chinesa:
海蜇 hǎizhē, significando "urtiga-do-mar") e
Stomolophus meleagris (cannonball jellyfish, ou “bola-de-canhão” nos
Estados Unidos) são as mais apreciadas, por serem maiores e terem uma estrutura mais rígida que os outros sifozoários. Além disso, as suas
toxinas são inócuas para o homem.
3
Os métodos de
processamento
tradicionais, realizados por um “Mestre de Medusas”, envolve 20 a 40
dias e várias operações, em que a “umbrela” e braços orais são tratados
com uma mistura de
sal-de-cozinha e
alúmen, enquanto são comprimidos com um peso.
3 As gónadas e membranas mucosas são removidas antes da salga. Este processo reduz a
liquidificação, os
odores e o desenvolvimento de
organismos daninhos, além de tornar o produto mais seco e ácido, com uma textura "crocante"
3
. As medusas assim preparadas retêm 7-10 % do peso em vivo, apesar do
produto conter cerca de 95 % de água e apenas 4-5 % de proteína,
tornando-o relativamente baixo em
calorias3 . As medusas acabadas de processar são brancas ou cremes, tornando-se amarelas ou castanhas com um armazenamento prolongado.
Na
China, as medusas processadas são postas de molho em
água durante a
noite e
cozinhadas ou
comidas cruas no dia seguinte. O produto é cortado finamente e o
prato é muitas vezes servido com um
molho de
óleo,
molho de soja,
vinagre e
açúcar, ou como uma
salada com
vegetais3 . No
Japão, o produto é apenas passado por água, cortado em tiras e servido com vinagre, como um
aperitivo3 4 .
No sul dos
Estados Unidos, incluindo a costa
atlântica e o
Golfo do México, desenvolveu-se uma
pescaria de
Stomolophus meleagris, para
exportação para países
asiáticos3 .
Em 1961,
Osamu Shimomura da Princeton University extraiu a
proteína verde fluorescente (GFP, do nome em
inglês “Green Fluorescent Protein”) e outra proteína
bioluminescente, chamada “aequorina”, da medusa
Aequorea victoria. Três décadas mais tarde,
Douglas Prasher, trabalhando na
Woods Hole Oceanographic Institution, sequenciou e
clonou o
gene responsável pela produção da GFP. A seguir,
Martin Chalfie da Columbia University descobriu o uso da GFP como marcador fluorescente de genes inseridos em células de outros organismos.
Roger Tsien
da University of California, San Diego, manipulou a GFP para obter
outras cores de fluorescência para uso como marcadores. Em 2008, o
Prémio Nobel da Química foi atribuído a Osamu Shimomura, Martin Chalfie e Roger Tsien pelo seu trabalho com a GFP.
A GFP artificial é usada para mostrar em que
células ou
tecidos se expressam certos genes. A técnica, usando
engenharia genética,
une o gene que se está a estudar com o que produz a GFP. O DNA
combinado é inserido numa célula que vai gerar, seja uma linha de
células, seja um animal completo com aquele gene modificado. A célula ou
animal vão mostrar a expressão do gene artificial que, em vez de
promover a produção da proteína normal, vai produzir GFP. Fazendo
incidir luz sobre o animal ou célula, é possível, então, descobrir em
que tecido, ou em que estado de desenvolvimento, se manifesta aquele
gene
5 .
Das medusas pode também extrair-se
colagénio que é usado em muitas aplicações científicas, incluindo o tratamento da
artrite reumatoide.
Um grupo de medusas da espécie
Chrysaora fuscescens, do
oceano Pacífico num aquário.
É frequente colocar medusas em
aquários, geralmente com um fundo
azul,
enquanto os animais são iluminados lateralmente para maior contraste,
uma vez que, em condições naturais, muitas medusas são tão
transparentes que se tornam invisíveis.
Manter medusas em
cativeiro
implica alguns problemas. Isso se dá, em primeiro lugar, porque elas
não estão adaptadas a espaços fechados, uma vez que dependem das
correntes
para transporte e alimentação. Assim, para compensar, os aquários que
as mantêm - tipicamente circulares, para evitar que os animais fiquem
presos num canto - devem ter um dispositivo para fazer circular a água.
Toxicidade para o homem
A medusa-juba-de-leão,
Cyanea capillata, uma das maiores, pode causar incómodo, mas raramente é fatal.
Em geral, as picadas das medusas, principalmente da classe
Scyphozoa não são fatais, a não ser que a pessoa seja especialmente vulnerável à
peçonha. No entanto, as da classe
Cubozoa, como a tristemente famosa “
irukandji”, podem sê-lo. Em qualquer caso, quando se verifica o ataque de uma pessoa por medusas, devem ministrar-se imediatamente os
primeiros socorros.
As picadas de algumas espécies de
Mastigias não têm efeitos visíveis nos seres humanos.
A primeira medida é tirar a pessoa atacada da água, para evitar o
afogamento. Se a pessoa apresentar sintomas de
choque anafilático,
deve procurar-se ajuda especializada, sem demora. Caso o paciente
esteja apenas dolorido, as medidas incluem a remoção de todos os
tentáculos, seus restos, ou de cnidócitos da sua pele, por exemplo,
aplicando creme de barbear e raspando a área afetada com uma lâmina ou
cartão de crédito
6 .
A aplicação de
vinagre (ou de uma solução aquosa de
ácido acético de 3 a 10%) pode ajudar, mesmo em picadas graves
7 8
. Em casos de picadas nos ou perto dos olhos, o vinagre pode ser
aplicado à volta com uma toalha. Água salgada também pode ser usada,
caso o vinagre não esteja disponível
7 9 . Caso o ataque tenha ocorrido em água salgada, não se deve utilizar água doce, pois mudanças da
tonicidade10
podem causar a liberação de mais peçonha. O mesmo efeito negativo
também pode ser causado ao se esfregar o local afetado, ou pelo uso de
álcool,
amónia ou
urina 11 .
Depois dos primeiros socorros, a aplicação de
anti-histamínicos como a
difenidramina pode diminuir a irritação
6
. Para remover a peçonha da derme, pode aplicar-se uma pasta de
bicarbonato de sódio em água, cobrir a área afetada e reaplicar cada
15-20 minutos, se possível. Gelo também evita que a peçonha se espalhe.
Medusas de Haeckel
O naturalista
alemão Ernst Haeckel popularizou as medusas através das suas vívidas ilustrações, em especial na sua obra
Kunstformen der Natur.
Referências
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Ver também
Ligações externas